Hermann Bornheim (Bremen, Alemanha; 08/01/1882 a 23/10/1958, filho de Heinrich Engelbert Bornheim e Auguste Gädeke), operário, e sua esposa Ida Marie Minna Kruse, (Lauenburgo, Alemanha; 05/01/1880 a [indeterminado]), filha de Wilhelm Martin Eduard Kruse e Sophie Catharine Marie Frank, casados a 25/03/1905, migraram junto de seus dois filhos, Helmut Engelbert (Bremen, Alemanha; 07/10/1905 a 23/02/1980) e Agnes (23/07/1907), da cidade portuária de Bremen – Alemanha, situada ao norte do país, para o Brasil (chegada em 21/09/1921). Por um curto espaço de tempo, a família Bornheim permaneceu em Minas Gerais, onde Agnes contraiu febre amarela. Procurando um lugar melhor para se estabelecerem e sabendo que o clima ao sul do Brasil era mais semelhante ao de seu país natal, Hermann seguiu para o Rio Grande do Sul e, ao conhecer melhor as condições de moradia, trouxe o restante de sua família para radicar-se em Caxias – RS. Foi sócio proprietário da empresa Matte & Bornheim, que comercializava produtos elétricos, instalada abaixo da residência de Fioravante Zatti, à rua Júlio de Castilhos, próximo ao Banco da Província e defronte à Agência Ford da cidade. Entre 1937 e 1938, a razão social da firma foi alterada para “Eletricidade e Bazar Bornheim”, quando mudou o ramo de atuação (produtos elétricos, bazar e utilidades para o lar) e sua sede para o piso inferior da residência da família Scotti, defronte à praça Dante Alighieri, na esquina das ruas Júlio de Castilhos e Marquês do Herval. Na metade da década de 1950, a loja passou para a razão social “Gruber & Bornheim Ltda.”. Germano, como Hermann era conhecido na cidade, era, ainda, grão mestre do núcleo maçônico da cidade.
Helmut Bornheim, primogênito de Hermann e Marie, começou a trabalhar na unidade da Companhia Rio Grandense de Usinas Elétricas em Bento Gonçalves – RS em 26/07/1925, lotado no cargo de Eletricista Especializado; encaminhou pedido de exoneração em 31/10/1927 e foi readmitido em 01/02/1928. A 15/06/1953, tornou-se Diretor dos Serviços Industriais da Comissão Estadual de Energia Elétrica, na Sub-residência de Caxias do Sul – RS, designado como Encarregado dos Serviços Técnicos. Em visita à família, Helmut conheceu Amélia Cecília Brentano, amiga de sua irmã que estudava no Colégio Americano de Porto Alegre – RS. Ela estava em período de férias na cidade quando acompanhou Agnes à estação férrea para recebê-lo; foi amor à primeira vista. Cecília não chegou a formar-se pois largou os estudos para casar-se com Helmut, em 29/12/1928. Da união, nasceram seus três filhos: Gerd Alberto, Irmgard Cecília e Amália Marie Gerda Bornheim. Helmut foi um dos fundadores da SORSUL – Sociedade Representantes Comerciais do Nordeste do Rio Grande do Sul.
Agnes Bornheim era casada com Pedro Kerber, engenheiro elétrico francês radicado em Caxias – RS, com quem teve dois filhos legítimos, Pedro Paulo (nascido em Março de 1934) e Leo Carlos, e uma filha adotiva, Melita Witt. Kerber foi engenheiro chefe da usina elétrica da Companhia Rio Grandense de Usinas Elétricas instalada em Caxias, além de membro do Conselho Consultivo do núcleo caxiense da Liga de Defesa Nacional e do Conselho Fiscal do Aeroclube de Caxias do Sul. Auxiliou, ainda, na concepção dos desenhos de cachos de uvas feitos em pedras portuguesas e do novo traçado da praça Dante Alighieri, durante a administração de Dante Marcucci. Após o falecimento de Pedro Kerber, Agnes casou-se novamente com Evaldo Horbach, transferindo residência para Gramado – RS.
GERD ALBERTO BORHEIM
Gerd Alberto Bornheim, nasceu em 19/11/1929, em Caxias – RS, e faleceu em 05/09/2002, na cidade do Rio de Janeiro – RJ. Estudou no Ginásio Municipal Nossa Senhora do Carmo e, após sua formatura, decidiu que ia ingressar na Faculdade de Medicina; foi quando mudou-se para Porto Alegre – RS, em 1945. Constatando que era um curso caro, iniciou os estudos em Comércio, seguindo os passos de seus familiares. Começou a trabalhar na Sidney Ross Company e deu-se conta de que aquilo não era o que queria para sua vida e, mesmo com uma promoção irrecusável oferecida pela empresa, a Filosofia passou a ser sua aspiração. Junto ao serviço militar no CPOR – Centro de Preparação de Oficiais da Reserva, iniciou seus estudos em Filosofia na PUC – Pontifícia Universidade Católica, onde formou-se em 1951; sua formação tomista proporcionou-lhe familiaridade com os clássicos e o aprendizado de latim e grego. Como bolsista do governo francês, por meio da Alliance Française, chegou a Paris em 1953, para contato com o pensamento filosófico contemporâneo. Nos cursos de Jean Hyppolite e Jean Wahl, conheceu a obra de Martin Heidegger. Conviveu com intelectuais consagrados como Merleau-Ponty, Piaget e Bachelard. No ano seguinte, transferiu-se para Oxford, na Inglaterra, para cursar Filosofia Política e Literatura Inglesa Contemporânea e, em 1955, frequentou aulas de arte e cultura gótica na Universidade de Freiburg im Breisgaus, na Alemanha. Retornou ao Brasil, em 1955, para lecionar Filosofia na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Cristo Rei, de São Leopoldo – RS, e na UFRGS – Universidade do Rio Grande do Sul, na matéria de Filosofia Alemã. Um ano depois, passa a integrar o corpo docente da PUC como professor de História da Filosofia. Publicou artigos em suplementos literários de periódicos da imprensa, produção que, por vezes, serviu de matéria-prima para seus futuros ensaios. Com a criação e efetivação do Curso de Estudos Teatrais da Faculdade de Filosofia da UFRGS, em dezembro de 1957, pelo reitor Elyseu Paglioli, é convidado junto ao diretor e teórico italiano Ruggero Jacobbi para assumir a direção e ministrar as disciplinas de Teoria e História do Teatro e Direção Teatral. Jacobbi desdobra o Curso de Estudos Teatrais em dois setores: o Curso de Cultura Teatral, destinado a professores, intelectuais, estudantes e pessoas interessadas em conhecer e analisar os problemas do teatro, e o Curso de Arte Dramática, destinado exclusivamente à formação de atores. Ruggero Jacobbi regressa a Roma, em 1960, e Gerd Bornheim assume a direção da escola até 1969, sendo responsável inicialmente pelas aulas de Teorias do Ator: estética e poética da encenação e, mais tarde, por História e Estética do Teatro.
Com a instauração do Regime Militar no Brasil, foi cassado em novembro de 1969, mas não porque tivesse algum envolvimento com organizações políticas clandestinas, mas por influenciar com suas ideias os jovens universitários que participavam da resistência à ditadura militar. Na onda de repressão que se seguiu o Golpe de 1964 e se agrava no fim de 1968 com o AI-5 – Ato Institucional Número Cinco, acabou impedido de trabalhar como professor. Passou dois anos dando aulas em um curso pré-vestibular e todos os meses era chamado para depor na Polícia Federal. Em 1972, aceitou o convite para dar aulas no Instituto de Filosofia da Universidade de Frankfurt – Alemanha, onde lecionou durante um semestre letivo. Posteriormente, vai para Paris e lá mora por quatro anos; para sobreviver, deu aulas de alemão e cuidou da organização da galeria de arte Jean Charles Lignel, no Boulevard Saint-Germain. Retornou ao Brasil em 1976 e, após três anos, a anistia lhe permitiu retomar as atividades no magistério superior. Em 1979, é convidado a lecionar Filosofia na UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro, na qual permaneceu de 1979 a 1991, aposentando-se por tempo de serviço, quando começou a lecionar na UERJ – Universidade do Rio de Janeiro.
Gerd Bornheim, um dos principais filósofos brasileiros, faleceu em 05/09/2002, aos 72 anos, em sua casa no bairro do Flamengo, na cidade do Rio de Janeiro – RJ, em consequência de um tumor no cérebro. Seu corpo foi cremado na Capela E do Cemitério São Francisco Xavier (Caju). Era solteiro e deixou um filho adotivo, Romildo, e um neto, Anderson, de três anos de idade. Considerado um dos principais filósofos brasileiros, Gerd realizou importantes trabalhos sobre teatro e reflexão estética, que se tornam referência fundamental para a apreensão e compreensão de diversos aspectos da área teatral, entre eles, o sentido do trágico, a estética brechtiana e o teatro contemporâneo. Como escritor, destacou-se pela densidade e clareza de sua análise crítica e, como conferencista, atraiu plateias numerosas por sua competência filosófica e capacidade de comunicação. Dedicou especial atenção a Bertolt Brecht e seu impacto no teatro do século XX no livro “Brecht: A Estética do Teatro”, publicado em 1992, onde analisa o estético, o social e o especificamente teatral na obra de Brecht, em uma inédita perspectiva de abordagem. Um de seus últimos livros, “Páginas de Filosofia da Arte”, publicado em 1998, reúne ensaios - que de acordo com a nota introdutória "nasceram de certa dispersão, ou da diversidade de interesses do autor" - escritos a partir de 1986 para jornais, revistas e obras coletivas. Os trabalhos relacionados ao teatro discorrem sobre variados temas: Shakespeare, teatro besteirol, teatro experimental, Gerald Thomas e Brecht.
IRMGARD CECÍLIA BORNHEIM
Irmgard Cecília Bornheim, nasceu em Caxias – RS a 22/10/1930 e faleceu em Caxias do Sul – RS a 23/07/2013. Era carinhosamente chamada de “Eme” por seus familiares e amigos. Estudou na Escola Complementar e completou o ginasial no Colégio São Carlos, formando-se em Dezembro de 1948 e na Escola de Comércio dessa mesma instituição em 09/12/1951. Teve sua vida dedicada à cultura e à educação. Antes de formar-se em História, trabalhou como professora nos colégios São José e Santa Catarina, bem como auxiliou no atendimento aos alunos do Ginásio Noturno para Trabalhadores. Formou-se professora em 1964 e foi nomeada para trabalhar em Vacaria – RS. A partir de 1965, começou a lecionar no Colégio Estadual Cristóvão de Mendoza, onde de 1969 a 1972 foi assistente de Romano Lunardi, então diretor, e do qual atuou como diretora, junto a Nilton Scotti, no ano de 1973. Foi professora da UCS – Universidade de Caxias do Sul, no departamento de Filosofia, Pedagogia e História, desde 1965.
Em 1974, foi cedida pela Secretaria Estadual de Educação para a Secretaria de Ensino como assessora do Secretário da UCS e, entre 1976 e 1985, atuou como diretora do Centro de Humanidades e Artes da UCS, órgão que congregava quatro departamentos: de Artes, Letras, História e Geografia e Filosofia, Psicologia e Sociologia. Também foi coordenadora das promoções culturais alusivas aos 10º aniversário da instituição. Junto ao cargo, ainda acumulou as atribuições de supervisão, delegada pela Coordenadoria de Extensão e Relações Universitárias como o “Atelier Livre”, Curso Fundamental de Educação Artística e o Coral. Em 1977, Irmgard foi reconhecida como “Personalidade/77 em Promoção Cultural” pela Rádio Princesa. Em 1984, recebeu a “Medalha do Mérito Universitário e, em Dezembro de 2003, recebeu a distinção acadêmica de Professora Emérita, ambas homenagens prestadas pela UCS. Em 30/04/2010, recebeu a medalha “Homenagem à Docência Acadêmica” por parte da ADUCS – Associação dos Docentes da Universidade de Caxias do Sul.
Em 11/05/2009, a Medalha Monumento Nacional ao Imigrante da Prefeitura de Caxias do Sul.
AMÁLIA MARIE GERDA BORHEIM
Amália Marie Gerda Bornheim, nascida em 25/08/1933, em Caxias – RS, e falecida em 20/09/2017, em Caxias do Sul – RS, vítima de uma infecção intestinal. Recebera o nome de “Amália” em homenagem à sua avó paterna, que era também sua madrinha, e “Marie” à sua avó materna, e era chamada somente de “Gerda” por seus amigos e familiares. Estudou na Escola Normal Duque de Caxias e ali formou-se professora, em 1952. Em 1956, iniciou o curso de Belas Artes na Escola Municipal de Belas Artes de Caxias do Sul, porém, sem concluí-lo. Posteriormente, foi nomeada para lecionar no interior como professora primária, permanecendo por mais tempo em Jaquirana, à época 5º Distrito de São Francisco de Paula – RS, e em Flores da Cunha – RS.
Por meio da Delegacia de Educação, foi convidada a fazer um curso técnico de Direção de Escolas Primárias e Supervisão Escolar, no Instituto General Flores da Cunha, em Porto Alegre – RS, como bolsista. Chegou a retornar para Caxias do Sul para assumir o cargo de Supervisora da 4ª Delegacia de Educação, porém, voltou à capital para trabalhar em sala de aula, onde morou com seu irmão, Gerd, e permaneceu por 15 anos. Em em virtude da doença de seus pais, precisou voltar à sua cidade natal para auxiliá-los; foi quando começou a trabalhar no colégio Maguary e, posteriormente, no Grupo Escolar Presidente Vargas, onde foi vice diretora (a partir de 1977) e aposentou-se.
Foi sócia e membro do conselho da Seção de Caxias do Sul da UBT – União Brasileira dos Trovadores, a partir de 1996, e sócia trovadora do Clube da Simpatia em Olhão – Portugal, a partir de 2000. Desde o primário, Gerda teve o hábito de escrever, mas nunca havia levado essa vocação a sério; com a aposentadoria, a paixão por escrever aflorou novamente em sua vida e passou criar trovas, haicai, poesias, verso livre e sonetos, publicados em periódicos de São Paulo – SP e Caxias do Sul. Suas trovas integram inúmeras publicações do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo. Gerda foi premiada em diversos concursos municipais, estaduais, nacionais e internacionais no período de 1996 a 2004, além de ter recebido diversas menções honrosas e especiais, entre elas, a Láurea Lítero-Cultural Nacional Dona Iraídes Amélia do Prato, pela criação dos poemas “Borboleta I”, “Borboleta II” e “A Palavra”, por meio da Casa do Poeta Brasileiro de Goiânia – GO, em 2003.
Os irmãos Bornheim participaram ativamente na criação do Atelier de Teatro da Aliança Francesa, em 1959, idealizado por Nilton Scotti, após retornar de Porto Alegre – RS, já formado em Arquitetura, onde integrou o Teatro Universitário. O objetivo era mudar a história do teatro caxiense; os textos das peças eram encenados pela trupe formada por nomes como Rose Scotti, Ely Andreazza, Lorita Sanvitto Andreazza, Darwin Gazzana, Zilá Dankwardt de Azevedo, David e Gloria Andreazza, Corina Wainstein, Hermínio Bassanesi, Ítala Nandi, Ênio Bernardi, Nilo Andreolla, Bruno Segalla e Mauro De Blanco.
Rodolfo Ermenegildo Secondo Braghirolli, filho de Carlos Braghirolli e Lucia Braghirolli, nasceu em San Benedetto Po, província de Mantova (Mântua), Itália em 15 de abril de 1860, sendo batizado na Igreja Paroquial de “S. Siro vescovo”, na localidade de San Siro, município de San Benedetto Po. Em 1869, ainda menino de nove anos, mas já alfabetizado com diploma de distinção, Rodolfo chegava a Caxias com seu pai Carlos Braghirolli, que aqui chegando e encontrando só mato, ele, um intelectual, enfrentou um grande desespero por não encontrar o conforto necessário nem recursos básicos para instalar sua família. O pequeno imigrante Rodolfo foi crescendo na “Freguesia de Santa Teresa” e ajudou a construir Caxias. Muito jovem, dedicou-se à profissão de alfaiate, ensinando-a a outros jovens e paralelamente os alfabetizando espontaneamente. Pelos anos de 1880, fez curso de aperfeiçoamento em alfaiataria em Turim-Itália, na Academia de Victorio Raffignone, seu professor. Foi um dos primeiros imigrantes italianos a se naturalizar brasileiro. De profissão industrialista, estabelecido com oficina de alfaiate e confecção de roupas feitas, foi premiado com Diploma de Menção Honrosa na Exposição Estadual do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, em 1901. Teve seu trabalho reconhecido no âmbito internacional, quando da sua premiação na exposição de Turim, no ano de 1911, ocasião em que exibiu seus trabalhos de corte. Foi pioneiro no ramo da alfaiataria e da construção civil nos primórdios da cidade. Em 1915, foi eleito presidente da associação denominada União Geral dos Alfaiates. Casou-se com Josefina Rosina Braghirolli em 14 de fevereiro de 1885, em Caxias (RS), na Igreja de Santa Teresa. Do matrimônio nasceram 12 filhos, sendo que os cinco primeiros (Luiza, Higinia, João, Rômulo e Dina) faleceram muito cedo; os outros são: Hygina, Sylvia, Aldo, Dyna, Lyna, Yolanda, e Branca (falecida com 14 anos de idade). Em 1887, foi um dos fundadores da então Sociedade Italiana de Mútuo Socorro Príncipe de Nápoles, mais tarde Sociedade Caxiense de Mútuo Socorro, sendo em sucessivas diretorias, vice-presidente, secretário, 1o secretário do Conselho Diretivo e conselheiro. Em 14 de setembro de 1897 foi nomeado para o cargo de 1o Suplente do Juiz Distrital da sede do município de Caxias pelo então Presidente do Estado, Júlio Prates de Castilhos, para o mandato de quatro anos. Em 1o de fevereiro de 1898, a Inspetoria Escolar da 3a Região, com sede em Montenegro, que tinha jurisdição sobre a Vila de Santa Teresa e como inspetor Lucio Brasileiro Cidade, nomeia através deste, Rodolfo Braghirolli como membro do Conselho Distrital do distrito escolar de Caxias. Em 08 de julho de 1901 participa da fundação da Associação dos Comerciantes de Caxias e na Assembleia Geral de fundação da entidade foi eleito membro do Conselho Fiscal, juntamente com Rodolfo Felix Laner e Ludovico Sartori, sendo-lhe conferido o título de Sócio Honorário nos quarenta anos da fundação, quando era presidente, Ottoni Minghelli.
Em setembro de 1906, por proposta de Arthur de Lavra Pinto, Rodolfo Braghirolli foi unanimemente aceito como sócio contribuinte do Grêmio Literário Caxiense. Rodolfo Braghirolli estava também entre os que, em 1908, fundaram a Associação “União Conductora”, que tinha por fim manter um carro fúnebre para a condução dos mortos, sem distinção de posição e nacionalidade. Em 30 de junho de 1910 lhe foi conferido o título de sócio remido da referida associação, sendo na ocasião o presidente, Miguel Muratore. Também em 1910, Rodolfo Braghirolli foi um dos oradores oficiais na inauguração da Estação Férrea, um avanço que pleiteava junto ao governo estadual desde de 1897. Fez parte do primeiro grupo de representantes do teatro amador em Caxias. Foi membro da Sociedade Filodramática, representando-a juntamente com Pedro Stangherlin, Antonio Piccoli, Angelo Manfro, Nicolau Salermo e Luiz Curtolo. Foi um dos sócios-fundadores do Clube Juvenil, tendo feito, em 1909, um empréstimo de 10 mil réis, ação assinada pelo presidente da agremiação Hermenegildo Buratto e pelo tesoureiro Victorio Rossi. Em 25 de agosto de 1927 adquire o antigo Cine Theatro Apollo e inicia sua reconstrução após o incêndio ocorrido em 28 de maio de 1927, sendo o mesmo reformado em 1952, quando passa a se denominar Cine Teatro Ópera, sob direção de Júlio Ribeiro Mendes. Foi membro do Conselho Municipal (atual Câmara de Vereadores), na época de Tancredo Feijó. Em 1954, seu nome foi um dos escolhidos pelo prefeito municipal Major Euclides Triches, para denominar uma das ruas da cidade. Rodolfo Braghirolli faleceu em Caxias (RS) a 11 de fevereiro de 1942, com 82 anos de idade. Seu atestado de óbito foi firmado pelo Dr. Luiz Faccioli, que deu como causa da sua morte, a febre urinosa.
Josefina Rosina Braghirolli, filha de Candido Rosina e Margarida Basanella Rosina, nasceu na localidade denominada Alba de Rovereto, província de Trento, do então Reino da Áustria-Hungria, mais tarde Reino da Itália, em 1o de setembro de 1867. Seu pai Candido era oficial de marceneiro e considerado na Itália um grande artista. Dona Bepa, como carinhosamente a chamavam, chegou com seus pais ao Brasil, em São Sebastião do Caí em 1o de janeiro de 1877, após ter desembarcado no Rio de Janeiro de uma viagem de quarenta dias de navio. Casou-se com Rodolfo Braghirolli em 14 de fevereiro de 1885, tendo doze filhos ao total, dos quais cinco morreram precocemente e uma ainda adolescente. Com vários filhos para cuidar, Josefina trabalhava ainda na alfaiataria ao lado do marido e prestava assistência aos clientes e amigos que vinham de Vacaria e se hospedavam num barracão aos fundos da residência da família, situada na avenida Júlio de Castilhos. Josefina Braghirolli exerceu seu direito ao voto nas eleições para presidência da República em 1945, aos 78 anos de idade e para prefeito de Caxias do Sul em 1951, com 84 anos de idade, ambas ocasiões registradas nos jornais Diário do Nordeste e O Pioneiro, respectivamente. Em 27 de agosto de 1976, Mário Gardelin enquanto Vereador pela Arena, indicou seu nome para denominação de rua (Indicação 346/76). Josefina Braghirolli faleceu em 02 de maio de 1961. Conforme certidão de óbito, as causas de sua morte foram insuficiência hepática, uremia e diabetes.
Pietro Curra (22/11/1853 a 10/12/1919), seguindo o exemplo de muitos imigrantes italianos, chegou ao Brasil em 1877 e radicou-se em Nova Trento – RS, onde casou-se com Catharina Fiorese (28/09/1861 a 25/11/1938), também imigrante italiana, a 27/12/1881. Eles tiveram nove filhos: Giuseppe (15/11/1881 a 16/03/1951), Serafina (13/05/1883 a 22/04/1953), João (25/08/1888 a 20/03/1959), Thereza Joana (10/11/1890 a [indeterminado]), Rosa (21/04/1895 a 20/10/1951), Amália Virgínia (14/10/1897 a 14/12/1918), Maria, Ettore (10/07/1899 a 15/04/1973) e Luiza (21/12/1901 a 08/12/1971).
Giuseppe Curra, filho dos imigrantes Pietro Curra (procedente de Piemonte – Itália) e Catharina Fiorese (procedente de Vicenza – Itália), nasceu em 15/11/1881, na 11a. Légua do Travessão Garibaldi, da então implantada Colônia Caxias, mais precisamente na área dos primitivos povoados de São Pedro e de São José, que reunidos por volta de 1885 formariam a vila de Nova Trento. Casou-se com Zaida Marchioro (25/03/1882 a 17/05/1962) em 02/06/1901, com quem teve quatorze filhos: sete destes faleceram ainda bebês; os demais eram Ignez, Anúncio, Zaida, Pedro, José Olinto, Luiza e Nelli. José, como ficou conhecido posteriormente, sempre trabalhou e morou em sua terra natal: tinha uma fábrica de cerveja e indústria de refrigerantes, implantada no início do século e que funcionou até a década de 1930. Como bancário, exerceu a função de correspondente da primeira agência bancária do Banco do Estado do Rio Grande do Sul na localidade. Sempre foi atuante na política, atuando pela emancipação de Nova Trento, junto ao Intendente Joaquim Mascarello e vários outros líderes políticos. Fez parte do primeiro Conselho Municipal, exercendo o mandato de 1924 a 1928.
Serafina Curra, filha dos imigrantes Pietro Curra (procedente de Piemonte – Itália) e Catharina Fiorese (procedente de Vicenza – Itália), nasceu em 13/05/1883, na 11a. Légua do Travessão Garibaldi, da então implantada Colônia Caxias, mais precisamente na área dos primitivos povoados de São Pedro e de São José, que reunidos por volta de 1885 formariam a vila de Nova Trento. Em Garibaldi – RS, ingressou no Postulado da Congregação das Irmãs de São José de Chambéry, a 15/10/1907, passando ao Noviciado em 09/01/1908. Fez os Votos Temporários em 01/01/1910 e os Perpétuos em 13/01/1915. Exerceu sua vocação entre 1910 e 1921, como professora, nas escolas São José de Garibaldi, Montenegro – RS e Caxias – RS e na Escola Rainha da Paz, de Lagoa Vermelha – RS. Acumulou os cargos de professora e Madre Superiora entre os anos de 1922 e 1926, atuando na Escola Rainha da Paz e e na Escola Regina Coeli, de Veranópolis – RS. Exclusivamente como Madre Superiora, atuou entre os anos de 1927 e 1953, nas cidades de Vacaria – RS (Escola São José), Rio Grande – RS (Escola Joana D’Arc e Hospital Beneficência Portuguesa ), Porto Alegre – RS (Hospital São Pedro), Caxias do Sul – RS (Hospital Nossa Senhora de Pompéia), Antônio Prado (Hospital São José), Veranópolis – RS (Hospital Nossa Senhora de Lourdes) e Lagoa Vermelha (Hospital São Paulo). Faleceu em Garibaldi, a 22/05/1953.
João Curra, filho dos imigrantes Pietro Curra (procedente de Piemonte – Itália) e Catharina Fiorese (procedente de Vicenza – Itália), nasceu em 25/01/1988, na 11a. Légua do Travessão Garibaldi, da então implantada Colônia Caxias, mais precisamente na área dos primitivos povoados de São Pedro e de São José, que reunidos por volta de 1885 formariam a vila de Nova Trento. Era caixeiro viajante e em Esmeralda – RS conheceu sua então futura esposa, Maria Amélia Kuzer Cramer (06/05/1916 a 30/05/1960), com quem casou-se e teve nove filhos: Maria Catarina, Pedro Manoel, Laura, Odila, Paulo Heitor, Anoir José, Julieta Albertina, Ignês e Iray. Fixou residência em Sananduva – RS, dedicando-se ao transporte de cargas. Com o intuito de salvar a vida de sua esposa enferma, viajou a cavalo para São Paulo – SP para compra de medicamento, período em que manteve seu sustento através da profissão de fotógrafo. Ao regressar da capital paulista, montou um curtume. Para possibilitar a continuidade dos estudos de seus filhos, João e a família mudaram-se para Caxias – RS, onde estabeleceram-se com comércio de secos e molhados. Faleceu em Caxias do Sul, em 20/03/1959.
Heitor Curra nasceu em 10/07/1899, em Nova Trento, Segundo Distrito de Caxias – RS. Foi batizado como “Ettore Antonio”, mas quando adulto, ao necessitar de uma nova cópia da certidão de nascimento, foi-lhe fornecido um novo documento com o nome “Heitor”. Vale lembrar que neste novo documento consta como data de nascimento outra data: 11/07/1899. Realizou seus estudos iniciais na Escola Particular São José, na localidade onde nasceu; já em 1913, foi matriculado no extinto Seminário Imaculada Conceição, em São Leopoldo – RS, onde realizara estudos que correspondem, atualmente, aos ensinos Fundamental e Médio. Na grade curricular do Seminário, estavam previstas as matérias de Religião, Português, Latim, Italiano, Aritmética, Geografia, Caligrafia, Canto, Desenho, Francês e História Universal. Em seu primeiro ano, seu aproveitamento não era satisfatório mas, à medida que os anos avançaram, o desempenho e aplicação melhoraram consideravelmente, permanecendo na instituição até 1917.
Em 1919, Curra foi a São Paulo – SP, onde prestou Serviço Militar; foi aprovado como Reservista do Tiro de Guerra no. 35 da capital paulista em Agosto de 1920. Empregou-se na Sociedade Territorial Sul-Brasileira H. Hacker e Cia., onde exerceu atividades contábeis, além de auxiliar no expediente, até 1922. De volta ao distrito de Nova Trento, conseguiu emprego no Banco Francês e Italiano de Caxias – RS, permanecendo ali até Julho de 1923, quando surge a possibilidade de trabalhar em Nova Vicenza, atual cidade de Farroupilha – RS, como guarda-livros do Depósito de Secos e Molhados por Atacado de Angelo Antonello, onde permaneceu até 1924. sua estada em Nova Vicenza foi curta mas suficiente para conhecer Ignez Clementina Jaconi, filha de Umberto Jaconi e Lucina Fin, sua então futura esposa. A decisão de unirem-se em matrimônio foi concretizada em 18/10/1926, em cerimônia civil na casa dos pais de Ignês, situada à rua Júlio de Castilhos, em Caxias. Faustino Gomes, primeiro suplente do Juiz distrital em exercício, Hugo Argenta e José Eberle foram testemunhos. No dia 20, casaram-se no religioso, em Nova Vicenza. O casal teve quatro filhos: Nestor, Humberto Pedro, Lourdes e Heitor Filho.
Em 18/03/1925, Curra desempenha sua primeira função pública e é nomeado Tesoureiro Municipal da Vila de Nova Trento – RS. Solicitou sua exoneração em 30/04/1927, para concorrer ao cargo de Conselheiro Municipal, do qual tomou posse em 20/09/1928 e atuou até 24/12/1930. Foi nomeado para Primeiro Suplente do Juiz Distrital em 20/06/1929 e permaneceu nessa função por quatro anos.
Atuou ativamente pelas cooperativas agrícolas de Nova Trento, como guarda-livros, fundador e organizador:
– de 1930 a 1932, na Sociedade Cooperativa Vitivinícola 3 de Outubro Ltda. e na Cooperativa Agrícola São Pedro Ltda.;
– de 1931 a 1932, na Sociedade Cooperativa Vitivinícola Santo Antônio Ltda.;
– de 1932 a 1934, na Sociedade Cooperativa Vitivinícola Trentina Ltda.
Posteriormente, realizou especializações na área de Contabilidade e Advocacia, sendo identificado como “Contador Provisionado”, com base no artigo 3 do Decreto 21.033, de 08 de fevereiro de 1932, e “Advogado não Diplomado”, pertencente à OAB – Ordem dos Advogados do Brasil desde 12/10/1932. Ascendia profissional e politicamente, através de várias nomeações concedidas. Era partidário do PRL – Partido Republicano Liberal, fundado em 1932 pelo então General Flores da Cunha, que contava com uma Comissão Diretora Municipal do partido na Vila de Nova Trento, onde possuía alta representatividade e era presidida por Curra. Em função disso e de sua forte atuação na sociedade, ele é nomeado Prefeito da localidade, em ato assinado pelo então Interventor General Flores da Cunha, em 02/03/1933. No pleito seguinte, realizado em 1935, Curra é eleito por voto popular, permanecendo no cargo até 1941. Paralelo ao cargo de Prefeito, foi nomeado para os cargos de Presidente de Junta de Alistamento Militar e Presidente da Comissão Central de Recenseamento (de 1933 a 1941) e, de forma interina, para desempenhar a função de Delegado de Polícia (de 22/05/1934 até 07/02/1936). Curra e seu cunhado, Alexandre Valsechi, possuíram uma fábrica de armas de caça, localizada em Flores da Cunha – RS e denominada “Valsechi, Curra & Cia”. A empresa teve licença para atuar na confecção de armamento concedida pelo Ministro de Estado dos Negócios da Guerra a 12/08/1937.
Após a morte de sua mãe, a casa dos Curra passou a ser utilizada por Heitor e sua família; em 1941, a família fixou residência em Caxias – RS. Ele se desvincula da vida política e passa a exercer a atividade de Escrivão do Civil e Crime, Júri e Execuções Criminais e é nomeado para as funções de Secretário da Junta de Alistamento Militar, até 1960, ano em que solicita sua aposentadoria. Em sua vida privada, é sabido que Curra falava italiano gramatical e francês, além de possuir o hábito da leitura: em sua biblioteca, guardava livros das mais variadas áreas – política, romances, história, religião, enciclopédias, dicionários – e um vasto acervo na área jurídica. Era assinante das revistas e jornais da época. Participava de eventos culturais que ocorriam em Nova Trento, como teatro ou cinema, pois gostava muito. A música fazia parte de sua vida e praticou canto quando esteve matriculado em São Leopoldo – RS. Admirava melodias de sopro, principalmente por flauta, instrumento que aprendera a tocar com muito estudo e empenho. Quando jovem, era fascinado por futebol, paixão que herdou do pai que, além de atuar como jogador, muito contribuiu para a formação de alguns clubes esportista de Nova Trento, atual Flores da Cunha – RS. Heitor Curra faleceu em 15/04/1973, em virtude de um enfarte do miocárdio. Como homenagens póstumas, recebeu a denominação do “Campeonato Municipal do Interior Heitor Curra”, realizado em Flores da Cunha no ano de 1980, e a denominação de ruas em sua cidade natal e no bairro Madureira, em Caxias do Sul – RS.
Lourdes Curra, filha de Heitor Curra e de Ignez Clementina Jaconi Curra, nasceu em Flores da Cunha – RS, a 17/03/1933, onde viveu até seus oito anos de idade, mudando-se com a família para Caxias – RS em 1941. Estudou parte do ensino fundamental na Escola São José de sua cidade natal e cursou Magistério na Escola Duque de Caxias, já em Caxias do Sul – RS. No Instituto de Educação General Flores da Cunha, em Porto Alegre – RS, ela formou-se Técnica em Supervisão Escolar. Na Universidade de Caxias do Sul, graduou-se em Pedagogia. Aos 17 anos, quando aluna de Magistério, escreveu seu primeiro livro, o manuscrito “A Princesinha Marta”, originado de um pedido que sua professora de Português, Marianinha de Queiroz, fez à turma de alunas durante a aula e que fora publicado em 2007 – um dos seus títulos de referência.
Profissionalmente, exerceu as funções de professora primária e do ensino médio, fiscal de ensino e trabalhou na então 4ª Delegacia de Ensino, como supervisora e fiscal de ensino. Em 2003, Lourdes começou a publicar suas obras literárias, voltadas principalmente para o público infanto juvenil, público que demonstra amor especial, e adulto, sendo quatro destes em braile: “O coração vê além do horizonte”, “Saga do caminhante do céu”, “A luz dos anjos”, “Primavera do coração”, “Esperança”, “Um Sonho de Esperança”, “Rapa Nui, o umbigo do mundo”, “Autobiografia de Titi: o pássaro cantador”, “Uma história de amor”, “A Princesinha Marta e um sonho de criança”, “Sapolândia” e “Eureca!!!”. Possui também livros que fazem uma reflexão sobre maneiras de bem viver, como “O jogo da vida: aprendendo a jogar”, e biográficos: um, em parceria com Evandro Luiz de Oliveira, sobre seu pai, intitulada “Heitor Curra – um Cidadão Florense Vida e Obra”, lançada em 2006, e “A Saga do Guerreiro Xavante Orestes Serinhonsa Aedzane”, lançado em 2018.
Foi uma das fundadoras do Clube de Mães “Santa Mãe de Deus” do bairro Pôr do Sol, de Caxias do Sul – RS, no qual trabalhou de 1984 a 2014. Desde 2007, Lourdes ocupa a cadeira número 26 da Academia Caxiense de Letras e participa de Feiras do Livro em todo o Estado do Rio Grande do Sul; foi “Escritora Homenageada” na 30ª Feira do Livro de Caxias do Sul e “Patrona” da 37ª edição da Feira do Livro de Flores da Cunha, ambas em 2014.
Lourdes faleceu em 25/09/2021.
José Gazola nasceu em Antônio Prado – RS, aos 07/09/1902. Formou-se como Técnico Rural, na cidade de Viamão – RS, e foi professor em Rio Grande – RS; posteriormente, trabalhou em Caxias, nas firmas Amadeu Rossi e Granzotto & Cia. Ainda moço, interessado na metalurgia e correlatos, aproveitou uma oportunidade surgida com a Revolução Constitucionalista, quando o Estado-Maior do Exército no Rio Grande do Sul procurou nos meios locais atender às imediatas necessidades de armamento. Gazola contatou a chefia militar em Porto Alegre, prontificando-se a tentar o fabrico do material bélico desejado: a primeira granada fuzil, tipo V.B. (Viviam Brezière), desenhada pelos órgão técnicos do antigo Arsenal de Guerra de Porto Alegre. Já em fins do mês de Julho de 1932, adquiriu algumas máquinas e, com urgência, organizou a firma “José Gazola e Cia.”, da qual faziam parte seus irmãos Antônio e Sílvio. Instalada a firma e montada a fábrica, foram iniciados os trabalhos e, trinta dias após o recebimento do desenho, José Gazola apresentou os primeiros exemplares do novo artefato bélico, com fabrico ainda inédito no Brasil.
Terminada a Revolução Constitucionalista, os irmãos Gazola, depois de muitos estudos e pesquisas junto a firmas berlinenses, instalaram a primeira fábrica no Brasil de espoletas para caça com a razão social “Gazola, Travi & Cia.”, por ocasião da associação de Marcos Travi. O êxito de suas operações foi grande, tanto que a firma resolveu, então, importar equipamentos e instalar a primeira forja de cutelarias na região nordeste do Rio Grande do Sul, que foi a segunda em todo o Brasil. Enquanto José Gazola percorria o país pesquisando matérias-primas e lançando novos produtos, seus irmãos, Sílvio e Antônio, com operários ainda inexperientes, atendiam os serviços internos.
Entre 1940 e 1942, José Gazola reúne os membros da empresa e resolve viajar ao Rio de Janeiro, oferecendo seus serviços aos órgãos técnicos do Ministério da Guerra e da Marinha, que, embasados na experiência anterior de 1932, não tiveram dúvidas em aceitar. A empresa iniciou, então, a fase de produção de material bélico por decreto (de 10 de Dezembro de 1942): a indústria Gazola foi declarada “de interesse militar”, fornecendo peças e elementos de munição para artilharia e infantaria. Em 1946, recomeçou a fabricação de cutelarias finas, o que permitiu que a empresa entrasse novamente no mercado e buscasse nos Estados Unidos da América novas máquinas e equipamentos para enriquecer seu parque industrial. As linhas “Elmo”, “Elmo Cutelaria”, “Elmo Inox”, “Elo”, “Gazola” e “Vulcano Munições” eram marcas registradas da empresa, que tinha, ainda, representantes e caixeiros viajantes em 18 estados brasileiros, além de uma unidade em Nova Iorque (EUA). A partir de 1990, a companhia expandiu seu portfólio de produtos com o início da produção de panelas de aço inoxidável e ingressou no mercado de componentes e acessórios para implementos rodoviários.
Combalida por dificuldades financeiras, a empresa teve sua falência decretada em agosto de 2009 e, desestruturada pelo período em que permaneceu fechada, a companhia não logrou sucesso em sua tentativa de recuperação e teve suas operações fabris encerradas em meados de 2010.
José Gazola foi, ainda, um dos fundadores do Rotary Clube, assim como do Lions Clube de Caxias do Sul e do Grupo das Falenas. Foi presidente da Associação Comercial e do Clube Juvenil. Era casado com Odithe Silla Gazola, com quem teve dois filhos: Livio Cesar (seu sucessor na empresa) e Júlio Lúcio Gazola. Era detentor da Ordem do Pacificador, concedida pelo Exército, de comenda na Ordem do Cavalheiro, conferida pelo Governo Italiano e Ordem do Mérito Marechal Rondon. José Gazola faleceu aos 69 anos, em Caxias do Sul, a 20/03/1972.
Ivo Antônio Gazola era filho de Reinaldo Gazola, natural de Antônio Prado – RS, e Maria Luiza Carletti, nascida na Itália. Após concluir o ginásio, matriculou-se no curso de “Perito Contador, no colégio Nossa Senhora do Carmo, trabalhando durante o dia. No seu aniversário de 17 anos, ingressou na empresa de seu tio, José Gazola, a Gazola Indústria Metalúrgica Ltda., quase no mesmo ano em que, por Decreto-Lei de Getúlio Vargas, esta foi considerada de interesse militar e passou a produzir materiais bélicos para o Exército Nacional. Na nova produção, Ivo passou do Almoxarifado para a Química, produzindo fulminato de mercúrio, o explosivo destinado ao carregamento de granadas, função esta exercida até o acidente que enlutou a firma e inúmeras famílias caxienses: a violenta explosão na fábrica, no final de 1943.
Após 1950, passou a atuar como Gerente do Almoxarifado da empresa, escalonando para Gerente de Escritório Central, depois para Gerente Financeiro, Gerente de Vendas e, finalmente, em 1979, para Diretor Comercial. Como funcionário e administrador, viveu anos de expansão na conquista de novos mercados, obtendo subsídios de visitas a feiras e exposições nacionais e internacionais, como na África e em Milão.
Ivo Gazola também de destacou na comunidade caxiense por anos de leonismo: foi presidente do Lions Clube da cidade e responsável, como tesoureiro, pela construção da escola Melvin Jones. Ligado ao ramo da metalurgia, foi diretor financeiro e, posteriormente, presidente da ABITAC – Associação Brasileira da Indústria de Talheres e Cutelaria, Utensílios Domésticos, Hospitalares e Similares, em São Paulo, por duas gestões, quando viabilizou a instalação da sede da entidade junto à FIERGS, em Porto Alegre – RS, o que possibilitou um melhor atendimento à categoria. Em 1987, Ivo Antônio Gazola recebeu homenagem da ADVB – Associação dos Dirigentes de Vendas do Brasil/RS pelos 55 anos de atividades da empresa Gazola S.A. Em 1992, foi agraciado com o Troféu Caxias 116, através do Jornal Pioneiro e da Rádio São Francisco; em 1993, foi reconhecido como “Colaborador Emérito do Exército” pelo Exército Brasileiro. Já em 2008, Ivo foi homenageado com o “Mérito Metalúrgico Gigia Bandera”, por sua visão estratégica, representação institucional, empresarial e de defesa da livre iniciativa.
Em 1948, Ivo Gazola casou-se com Beloni Meyer, de Veranópolis – RS, com quem teve seus quatro filhos: Maria Tereza, Paulo Cesar, Luiz Alberto e Thais. Ivo Antônio Gazola faleceu em Caxias do Sul, aos 87 anos.
Livio Cesar Gazola nasceu em Caxias do Sul em 29/09/1928. Seus pais, José Gazola e Odithe Silla Gazola, imigrantes italianos, residiram inicialmente em Antônio Prado e junto aos filhos, por volta de 1920, vieram residir em Caxias.
No ano de 1954, Livio Cesar Gazola ingressou na empresa de seu pai, a Indústria Metalúrgica Gazola Ltda., no cargo de Assessor do Departamento Técnico. Três anos depois, assumiu o cargo de Chefe de Compras e, no ano de 1960, após a realização de curso de pós-graduação no exterior, assumiu o cargo de Diretor. Foi uma nova fase: a responsabilidade e os encargos foram se tornando mas amplos e o desafio cada vez maior e abrangente. Em 1969, foram inauguradas as novas instalações de Gazola S.A.: sua área física fora ampliada e uma nova estrutura tecnológica implementada, o que motivou a visita de autoridades de expressão nacional, como a do então Presidente da República, Costa e Silva. Já em 1972, fruto de sua dedicação e conhecimento, Livio passou a ocupar o cargo de Diretor Presidente da empresa e, concomitantemente, dirigiu as empresas Brazex S.A. – Predial, Indústria e Comércio, Brazmar S.A. – Hotéis, Turismo e Empreendimentos Imobiliários e Brazpar – Administração e Participações Ltda.
Paralelamente às atividades de empresário, Livio desempenhou funções nos mais variados segmentos da sociedade caxiense. Nos anos de 1961 e 1962, presidiu o Rotary Clube de Caxias do Sul; de 1962 a 1964, o SIMECS – Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul. Já em 1965, presidiu o Centro Cultural Norte-Americano de Caxias do Sul; no ano de 1969, a convite do então prefeito, Hermes João Webber, Livio Cesar Gazola foi presidente da Festa da Uva. Participou, ainda, da direção do Clube Juvenil, passando a integrar, mais tarde, seu Conselho Fiscal. Na FIERGS – Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul, ele ocupou cargos importantes entre as décadas de 1960 e 1970, como Presidente do Conselho Deliberativo Superior e atuando em Diretorias. Na Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul, foi presidente do Conselho Deliberativo (1989 a 1991) e, posteriormente, do Conselho Superior da instituição. Em 1976, Livio Cesar Gazola foi nomeado presidente do Esporte Clube Juventude, do qual era torcedor e, mesmo findo seu mandato, continuou trabalhando pelo clube esmeraldino, integrando Conselhos e assessorando sua presidência. Em 1987, foi homenageado com o “Mérito Metalúrgico Gigia Bandera” e, em 18/11/1997, recebeu a Comenda do Décimo Aniversário do SENAI José Gazola – Centro de Formação Profissional. Em 20/08/1998, recebeu o título de Cidadão Emérito da Câmara de Vereadores de Caxias do Sul. Permaneceu na presidência da Gazola S.A. Indústria Metalúrgica até 2004, quando passou a integrar o Conselho de Administração da empresa.
Livio Cesar Gazola casou-se, em Julho de 1956, com Sandra Souza Leão de Oliveira, que conheceu em uma viagem ao Rio de Janeiro e com quem teve quatro filhos: Luiz Eduardo, Ana Isaura, Flávia e Adriana. Ele faleceu aos 78 anos, em Caxias do Sul, vítima de insuficiência cardíaca.
Matteo Carlo Gianella, filho de Giuseppe Gianella e Maria Stornelli Gianella, nasceu em 10 de novembro de 1883 na região de Piemonte, Província de Vercelli, na localidade de Crocemosso, Itália. Desde de menino, Matteo trabalhou em pequenas tecelagens e já aos seis anos de idade conseguia ganhar algumas “liras” emendando fios. Aos 15 anos foi promovido a técnico no ofício de fiandeiro e aos 17, Matteo já havia conseguido economizar algum dinheiro. Incentivado pelo pai, partiu para a América, estabelecendo-se em Buenos Aires, onde permaneceu por 11 anos trabalhando na sua profissão. Encarregado de montar o maquinário da Fábrica de Lã Campomar (Campomare), e posteriormente outra fábrica, denominada Buzzalla, Matteo ganhou experiência no ramo da tecelagem na capital argentina.
Porém, foi através de um anúncio de jornal em Buenos Aires, e em meio a muitas dificuldades na capital argentina, que Matteo decidiu vir para o Brasil por volta de 1913, ano em que recebeu o convite de Hércules Galló para ajudar a instalar em Galópolis a fiação e fábrica de fios que veio a se transformar no Lanifício São Pedro, posteriormente, Lanifício Sehbe S.A. Com conhecimento técnico em máquinas e especialização no ramo têxtil, foi designado a montar os equipamentos do lanifício, onde trabalhou por quatro anos. Naquela localidade, Matteo conheceu Ermelinda Viero, com quem casou a 04 de março de 1916. O casal teve seis filhos, dos quais dois faleceram ainda pequenos, sendo um deles, José, que faleceu aos 4 anos. Chegaram à idade adulta: Doviglio, Remo, Italia e Elite.
O sonho de abrir sua própria tecelagem começou a ser realizado após seu casamento com Ermelinda, quando o jovem casal estabeleceu-se em Santa Lúcia da IX Légua, dando início a uma pequena indústria com tecnologia rudimentar, que fabricava artigos para montaria. Ermelinda tingia e bordava as peças, que eram comercializadas no armazém de Abramo Eberle. O empreendimento começou em 1917, com máquinas de segunda mão e outras desenvolvidas pelo próprio Matteo, na Oficina Mecânica de Bortolo Triches, avô de Euclides Triches. Depois, com a ajuda do sogro Andrea Viero, o qual foi seu sócio por aproximadamente dois anos, Matteo adquiriu de Bortolo Triches, a propriedade que pertencia inicialmente à família Corsetti, às margens do Arroio Tega, no arrabalde Santa Catarina.
Surgiu, porém, um problema, não havia dinheiro para comprar a lã, matéria-prima da fábrica. Foi quando dona Ermelinda lembrou-se de que o colchão que haviam recebido de presente quando casaram continha aproximadamente 40 quilos de lã. Poderiam desmanchá-lo e assim dar início aos trabalhos da fábrica em 1920, quando a sociedade é modificada, entrando Domingos Viero em lugar de seu pai. Nessa época, a empresa denominava-se Matteo Gianella & Viero, que perdurou durante 20 anos. Tempo em que a produção diversificou-se e pavilhões foram sendo construídos. À medida em que novas máquinas iam sendo compradas, Matteo acrescentava as de sua própria inventividade. Em 1940, os filhos do casal, Doviglio e Remo, assumem a parte transferida por Domingos Viero e a empresa passa a se chamar Matteo Gianella & Cia. Após a morte de Matteo, em novembro de 1942, a razão social passa a ser Vva. Matteo Gianella & Cia.
Matteo Gianella teve seu nome designado para nomear uma das ruas do bairro Santa Catarina e também duas escolas da cidade, uma localizada em Santo Homo Bom, Zona Pigatto, no interior de Ana Rech, inaugurada em maio de 1953 e outra no bairro Santa Catarina, denominada nos anos de 1980, Escola Estadual de 1o Grau Matteo Gianella, oriunda da fusão da Escola Reunida Santa Catarina, posteriormente, Escola Isolada do Bairro Santa Catarina, com o G.E. Aristides Germani.
Ermelinda Viero Gianella, filha de Andrea Viero e Eliza Depauli Viero, nasceu em 27 de junho de 1893, em São Pedro da 3ª Légua, onde estudou na escola da professora Candinha Bay. Após concluir a “Seleta”, foi convidada por sua professora para ajudá-la na escola, devido ao seu destaque nos estudos e ao grande número de alunos para atender. Ermelinda cuidava do material didático e das lousas ou pedras para que estivessem limpas na hora de serem usadas. Porém, o que Ermelinda desejava mesmo era costurar e, depois de algum tempo mudou-se para a casa de parentes, em Caxias, onde trabalhava como doméstica no turno da manhã, e à tarde frequentava a casa de Maria Bragagnollo, na época uma das melhores modistas, para aprender corte e costura. Já dominando a nova profissão, voltou para a Terceira Légua e começou a costurar.
Ermelinda conheceu Matteo Gianella na festa do Santo Padroeiro, no entanto, o casal teve muitas dificuldades para levar o namoro a diante, pois como Matteo era bem mais velho e vinha de Buenos Aires, o pai de Ermelinda, preocupado com a possibilidade de ele ser um homem comprometido, criou muitos empecilhos para que o casamento se realizasse e só permitiu depois que Matteo provou que realmente era solteiro. Ermelinda e Matteo casaram em 04 de março de 1916 e fixaram residência em Galópolis, em uma das casas de alvenaria do Lanifício, onde Matteo ainda trabalhou por algum tempo.
Entretanto, desgostoso com os baixos salários que recebia, Matteo se propôs a abrir seu próprio estabelecimento e construiu seus primeiros teares, porém, não tinha dinheiro para adquirir a matéria-prima. O pai de Ermelinda, entusiasmado com a iniciativa do genro, decidiu associar-se no negócio e comprou as terras e o moinho que pertenciam à família Corsettti, no arrabalde de Santa Catarina, onde foi instalado o primeiro Lanifício Matteo Gianella. Com dificuldades financeiras para dar início ao negócio, Matteo tentou arranjar dinheiro emprestado. Não conseguindo seu intento, Ermelinda propôs desmanchar o colchão “de pura lã” que haviam ganhado dos familiares, como presente de casamento. De posse da matéria-prima deram início ao novo lanifício, no qual Ermelinda se ocupava de forma intensa, fiando, cardando, operando nos teares e cuidando dos livros da empresa, além de realizar suas tarefas de dona de casa e mãe.
Ermelinda, que era boa costureira e desenhista, desempenhou múltiplas funções, cuidando dos negócios quando o marido se ausentava e assumindo gradativamente responsabilidades para o bom andamento da empresa. Durante o período em que Matteo se encontrava em Caxias, o trabalho de supervisão era dividido entre os dois. Ermelinda tomava conta da produção dos setores onde trabalhavam as mulheres, e Matteo se ocupava mais com a produção de fios e tecidos. Desse modo, Ermelinda teve importante participação no lanifício fundado em 1917, sendo considerada a primeira mulher em Caxias a operar uma máquina de malhas, a qual foi importada da Itália por Matteo.
Aos 49 anos, Ermelinda fica viúva e leva adiante o empreendimento, dando continuidade às suas atividades na fábrica, que passa a denominar-se Vva. Matteo Gianella & Cia., cuidando dos negócios e dando rumo à tecelagem, até entregá-la para os filhos, quando a razão social da empresa passa a ser Vva. Matteo Gianella & Filhos. Ao final da década de 1960 é fundada a Fiação Ermelinda Gianella S.A., especializada em fios para malharia, tricô e tapeçaria. Além de todas as tarefas que desempenhava na empresa, Ermelinda encontrava tempo para auxiliar os operários da fábrica e os moradores do bairro com roupas, alimentos, medicamentos e palavras de conforto quando necessário. Sempre comprometida com as questões sociais, Ermelinda trabalhou para a construção da atual Igreja de Santa Catarina, ajudou na fundação do Grêmio Esportivo Gianella e se empenhou para que fosse criada a Escola Estadual Matteo Gianella. Estava sempre presente nas atividades ligadas à igreja e à escola. As festas de Santa Catarina e de 1o de Maio eram comemoradas com os operários, sempre com um concorrido churrasco de confraternização.
Conforme entrevista de seu filho Doviglio Gianella ao jornal Pioneiro, edição de 25 e 26 de novembro de 2000, Ermelinda ajudou a fundar, [em 1949], a Ordem Terceira de São Francisco em Caxias do Sul. Com o falecimento de Ermelinda, em 2 de julho de 1969, o complexo já havia se desdobrado em Lanifício Matteo Gianella Ltda e Fiação Ermelinda Gianella S.A., que no final da década de 1970, muda sua razão social para Ermelinda Gianella Ltda.
Annuccio Ungaretti, filho de Geremias e Clelia Ungaretti, nasceu em Valdottavo, Província de Lucca – Itália, a 08/12/1861; migrou para o Brasil em 03/11/1893, a convite de seu irmão Américo Ungaretti que já vivia em solo brasileiro à época e com quem posteriormente associou-se no comércio de fazendas, com lojas em Santo Amaro – SP, São Jerônimo – RS e Porto Alegre – RS. Em viagem para a zona colonial italiana no Rio Grande do Sul, conheceu Eulália Lunardi (07/08/1880 a 03/06/1912), filha de Romano Lunardi e Antonia D’Ambroz Lunardi, com quem casou-se em 29/08/1896 e teve cinco filhos: Júlio, Dario Romano (21/12/1900 a 27/02/1985), Clélia Antonieta (24/03/1903), Iris (09/01/1905 a 02/06/1988) e Nady Hilda (11/12/1907). Após o matrimônio, passou a residir na então Villa de Santa Tereza de Caxias – RS, onde foi um dos primeiros exportadores de vinho e videiras finas da região.
Em chácara de sua propriedade, na área próxima ao então futuro Parque da Imprensa, Annuccio dedicou-se ao cultivo de oliveiras: contava com 110 árvores, plantadas a partir de 1903, e das quais colhia cerca de 4.000 kg de azeitonas. Esta atividade merece grande destaque, já que recebera diversos prêmios em exposições, como a medalha de ouro na 2ª Exposição Agro-Pecuária, realizada na capital gaúcha em 1912, na categoria “azeitonas em conserva”, a medalha de prata na Exposição Internacional do Centenário da Independência, realizada no Rio de Janeiro – RJ em 1922, na categoria “Azeitonas – classes 35 e 36”, a medalha de ouro na Exposição Municipal de Caxias – RS, realizada em 1925, na categoria “Conservas de Azeitonas”.
Após o falecimento de Eulália, casou-se novamente com Maddalena Pilla Celi (07/12/1878 a 19/06/1938), viúva de Luciano Celi, industrial do ramo alimentício de Porto Alegre – RS, com quem teve três filhos (Nilo Antônio, nascido em 14/12/1915; Ugo Silvio René, nascido em 15/08/1917; Gema Maria Eulália, nascida em 01/09/1921) e dois enteados (José Ettore Pilla Celi, pintor e fotógrafo conhecido como “Heitor Celi”, e Stella Pilla Celi, nascida em 17/10/1909).
Foi proprietário do segundo quiosque comercial construído na praça Dante Alighieri, onde mantinha o “Bazar Familiar”, cujo contrato com a Intendência Municipal foi assinado em 17/11/1898 e rescindido pela mesma por meio do Ato nº 08, de 12/04/1909, publicado na edição de 17/04/1909 do jornal O Brazil. Ali, foram comercializadas miudezas, fazendas, brinquedos, entre outros. Na década de 1920, já figurava como agente da Loteria Estadual na cidade, nomeação que perdurou até 1942. Também foi proprietário da “Loja Americana”, bazar localizado à então rua Júlio de Castilhos, 79.
A residência de Annuccio Ungaretti, localizada à atual avenida Júlio de Castilhos, onde está construído o Edifício Martinato, foi referência para a fundação de duas instituições importantes para os caxienses: do Sport Club Ideal, primeiro clube de futebol caxiense, fundado em 1910, com a sede instalada aos fundos da residência e que posteriormente passou por uma fusão com o Sport Club Juventude, e da primeira policlínica caxiense, também fundada em 1910, composta de consultórios, sala de operação e alguns quartos hospitalares para os doentes atendidos pelos médicos Cesar Merlo, cirurgião, Vicente Bornancini, oculista, e Henrique Fracasso, então futuros proprietários do Hospital Nossa Senhora de Pompéia.
No âmbito social, participou da Comissão Provisória em prol da fundação da Associação dos Comerciantes de Caxias do Sul, à época Villa de Santa Teresa de Caxias, junto a Ítalo Bersani, Luiz Baldessarini, Mário Marsiaj e Luiz Pieruccini, cuja assembleia ocorreu em 08/07/1901, nos salões da Sociedade Operária Príncipe de Nápoles, e que atualmente corresponde à CIC – Câmara de Indústria e Comércio. Annuccio foi eleito para integrar a Comissão Fiscal da associação.
Em 1913, quando o Colégio Nossa Senhora do Carmo estava instalado em um barracão aos fundos da Igreja Matriz de Caxias – RS, foi criado o Curso Noturno, elementar e comercial, sob a orientação do clero e do Clube Literário Recreio Dante, fundado em 10 de Abril pelo vigário Dom João Meneguzzi. Tinha por finalidade promover a educação, instrução e lazer “com moderação” dos alunos e sua primeira diretoria foi formada por José Panceri, Annuccio Ungaretti e Abramo Eberle; funcionou por quase 20 anos.
Fez parte do Conselho Fiscal da Cooperativa Agrícola de Caxias junto a Antonio Giuriolo, Miguel Muratore, Abramo Eberle e Mansueto Pezzi, e foi sócio-fundador da Sociedade Operária Príncipe de Nápoles, além de atuar como Delegado da Real Agência Consular Italiana na cidade. Em 28/09/1930, Annuccio participou das festividades de inauguração do novo edifício do Colégio Murialdo de Ana Rech, convidado como Paraninfo. Mário Gardelin, enquanto Vereador, indicou seu nome para denominação de rua (Indicação 398/75), localizada no bairro Sagrada Família, em Caxias do Sul – RS. Faleceu em 22/01/1954, com 93 anos, vítima de marasma senil.
Júlio Lunardi Ungaretti, primogênito de Annuccio e Eulália Lunardi Ungaretti, nasceu na Villa de Santa Teresa de Caxias – RS, em 28/05/1897. Casou-se com Lyra Bernardi (de 13/06/1897 a 17/12/1977; filha de Paulino e Mary R. Bernardi), a 18/02/1922, em Porto Alegre – RS, com quem teve quatro filhos: dois meninos (Aldo Luiz e Marco Antônio), que faleceram ainda crianças, Neda (15/01/1923) e Marisa (16/06/1931 a 24/06/2002). Neda casou-se com Euclides Triches, a 15/12/1951, com quem teve um filho, André; Marisa casou-se com Itacir Romeu Rossi, um dos proprietários do Cine Real, a 03/02/1951, com quem teve cinco filhos: Itacir, Valter, Júlio, Tiago e Diogo.
Foi empresário industrial no ramo de tecelagem e confecção: a Tecelagem Marisa Ltda., criada em 1929, tinha sua produção destinada a tecidos e artefatos de seda e rayon. Em 1951, devido ao crescimento da empresa, abriu capital, transformando –se em S/A: passou a fabricar lingerie, jersey de acetato, nylon e poliéster, possuindo tinturaria própria. Associado à Celso Tadei, Júlio também era proprietário da Bioquímica Nacional Ltda., do ramo de tecelagem e tinturaria.
Foi presidente da Associação Comercial de Caxias do Sul – RS, entre 1947 e 1949, e Presidente da Comissão Organizadora da Festa da Uva, nas edições de 1950 e 1954. Foi de sua iniciativa a contratação do pintor italiano Aldo Locatelli para a execução do painel retratando o início da colonização italiana que encontra-se no atual Centro Administrativo Municipal, antigo pavilhão de exposições da Festa da Uva. Fez parte do Rotary Clube de Caxias do Sul e foi um dos fundadores do Centro Ítalo-Brasileiro. Seu nome foi indicado para denominação de avenida, localizada no bairro Desvio Rizzo, em Caxias do Sul – RS. Faleceu em 31/12/1990.
José Ettore Pilla Celi, nasceu no dia 01/02/1907, em Porto Alegre – RS, filho de Maddalena Pilla Celi e Luciano Celi. Desde cedo demonstrou gosto pelo desenho, sendo incentivado pelos familiares e, aos poucos, foi se aperfeiçoando. Quando passou a assinar suas obras, optou pelo nome Heitor Celi, seu segundo nome traduzido para o português. Seu pai, um industrial do ramo alimentício, faleceu jovem, vítima de um incêndio que atingira uma de suas fábricas. Para distraírem-se, Heitor e sua irmã Stella (a outra irmã, Hilda, faleceu repentinamente), passaram a visitar parentes em Caxias – RS, onde sua mãe conheceu o também viúvo Annuccio Ungaretti, pai de cinco filhos. Os viúvos casaram-se e uniram suas famílias.
Nos anos 1930, Heitor decidiu morar no Rio de Janeiro – RJ, onde frequentou o curso de Belas Artes e paralelamente estudou fotografia. Uniu a fotografia à pintura (fotopintura) e fazia retratos a óleo. Na década de 1940, retornou a Porto Alegre, abrindo um atelier denominado "Studio de Arte e Fotografia", na Rua da Praia. Nesta fase, o contato com sua família fica mais assíduo, o que o fez transitar nas sociedades porto-alegrense e caxiense: fez retratos e fotopinturas de Alda Muratore Eberle com os filhos, do casal Salatino, Bispo Dom José Baréa e dos empresários Eduardo Mosele e Aristides Germani. Também pintou retratos para a Metalúrgica Abramo Eberle Ltda. Faleceu em Porto Alegre, no dia 21/05/1959, vítima de um derrame cerebral.